há alguns anos, sem grandes expectativas, pelo tanto que se engavetam os possíveis resultados dos tais encontros e, impulsionado pelo dever profissional, participei de uma conferência. não lembro exatamente o tema discutido; o que não esqueço de jeito nenhum, foi de uma expressão dita hábil e pausadamente, de modo a prender a atenção do público, pelo palestrante: “vocês já ouviram falar em gentificação?”.
ouviu-se um burburinho na plateia. a grosso modo, a quase epígrafe, na explicação do orador, seria aplicada para estabelecer ao indivíduo, condições de se tornar… gente. isso mesmo: gente. para mim foi um choque, embora a surpresa, tivesse sido pelo fato de elucidar em muito, as coisas com as quais eu já comungava desde sempre, sobre a humanidade, de uma maneira não-acadêmica, por assim dizer.
pasmem; era como se a ciência humana reconhecesse de uma vez por todas que a condição da espécie, por si só, não condiciona o indivíduo a conviver bem em sociedade e sim, que precisa de outros componentes que lhe possam ser atribuídos ou adquiridos. tudo perpassando pela educação, aspectos culturais, pela história de cada um e evidentemente, pelas regras estabelecidas por lei e ainda, as normas ( quase ) entendidas por consenso, para alimentar as de convivência social.
a expressão, “cidadania”, sob o escrutínio da lei e por seu significado, sugere que todo indivíduo tem direitos e deveres para com a sociedade em que vive, independente de suas crenças pessoais, e estas, devem permanecer em segundo plano, quando o comportamento aceitável, deve fortalecer a ideia de coletividade. ou seja, independente da procura individual por grupos afins, o cidadão deve respeitar o todo. dito isso, vamos ao que me intriga até hoje, passado o impacto daquela declaração de uns anos atrás.
no brasil, temos um universo sem fim de leis, nos âmbitos federal, estadual e municipal. até aonde a vista alcança. todo santo dia, cria-se mais uma regrinha para se complementar o que já foi debatido à exaustão e que parece, no dia seguinte, insuficiente para o controle social e para manter tudo isso que aí está, em equilíbrio, para o bem da coletividade. mas, será mesmo?
o que se pode ver, sentir e finalmente, enxergar, é o crescimento dos ideais neoliberais em detrimento do bem público, ou seja, o estado não vem se interessando em proteger os seus cidadãos, em favor das exigências dos “rentistas” ou, acumuladores de riqueza que não fazem esforço nenhum para se tornarem ricos. vê-se, enxerga-se, o massacre da economia, que por aqui, vinha numa crescente e, inclusive, com o apoio dos prejudicados pela nova ordem, ou pelos, desavisados, mas nem tanto ( porque compraram a ideia de que o governo anterior havia “quebrado o país – e que teve muitos erros, mas os indexadores todos provam exatamente o contrário , então, “quebrar o país”, não foi um deles ).
cresce a violência, a fome, o abandono, o desemprego, o desamparo, a embocadura dos criadores destes males que se favorecem de tudo isso ( sim, nada disso é culpa das pandemias e da guerra – aviso aos desavisados, se ainda houver tempo ) e a miserabilidade humana em todos os seus aspectos. hoje, temo mais que ontem e espero que ainda haja tempo. o futuro é uma ilusão. um apelo: gentifiquem- se! genti fica são.
Como tá difícil ficar são meu caro? Mias ainda, ser gente em meio à tanta insanidade!
Preciso concordar com o amigo…. Tem sido, deveras, assustador.