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Disruptivo

o verso quebra a regra:

risca o barro
esquece o copo
desmantela o algoritmo
doa o gato persa
lê o torá
aperta os dedos
encerra-se em punhos
brada impropérios
perde o cigarro
salienta a justiça
desdenha o limite
liberta os loucos
dá ouvidos à ciência
verseja dogmas
discute astronomia
mente mal
apressa o passo
envaidece em aramaico
finge bem
arde em febre
ignora a garganta
bebe graspa
fala com as flores
chora pra lua
fotografa pardais
aprecia a voz rouca
ruboriza transparências
corrói no erro
toca estrelas
sangra todo dia
captura a amada
contesta filosofias
dá gorjetas
aperta o outro dia
compra pão
enxerga quase nada
acende a luz
paga a conta
corta os pulsos
ri por nada
costura à mão
suja o jeans
ajeita os óculos
aperta os olhos
lava o chão
conta os trocados
empobrece a rima
pede a dose
junta tudo
idiotiza a palavra
amarra os pés
joga-se ao mar
fala muito
fica mudo
prende o ar
estufa o peito
declama rapsódias
finaliza e diz-se laico

o verso quebra a regra
e volta ao pó:
poesia-mosaico

3 Comentários
  • Responder
    30 de dezembro de 2019, 21:44

    Que maravilha de poema… Imagino tu declamando estes versos… Os ouvintes jamais deixarão de refletir sobre a volta ao pó… Venturoso ano novo, poeta.

  • Responder
    8 de dezembro de 2020, 13:17

    Belíssimo!

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