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O circo e o céu

feitos humanos de arquitetura cabalística,
não fosse o nosso homem um totem, um forte,
bem jovem ainda, um prodigioso halterofilista.

via tudo da vida: a beleza, a arte sua riqueza.
voava sem asas; ora os malabares, ora seu próprio
corpo; “respeitável público: o trapezista!”

sua graça, seus coelhos da cartola, pombos, figurinistas.
atiçava as donzelas jogando rosas à plateia;
o estupendo e formoso artista.

mas o tempo o ensinou a tomar tento; uma só opção!
que circo tem um só picadeiro, e ele, no peito,
não dois; mas um só coração.

ao seu charme não resistia o calor, das moçoilas
mais estupefatas. mas entregou-se ao amor que viria,
sua história emoldurou, ao lado daquela linda mulata.

já se passara todo o tempo: foi palhaço,
louco e ensaiador solitário.
imaginava os sorrisos, os aplausos na memória;
agora velho; universo imaginário.

foram-se os tempos de glória. ele e seu par perseguidos,
mataram suas façanhas; armas? preconceito, racismo.

não tiveram o gosto de aprender com o amor:
a alegria, a magia, a mensagem dos malabarismos.

agora, rosto borrado. sozinho, carcomido e delirante.
foi pro céu rever a plateia e o grande amor da sua vida.
tudo voltou a ser como antes.

e lá montou um lindo e novo circo.
e fez o maior dos espetáculos daquelas alegorias.
o céu agora era o seu conforto, o Paraíso o entendia…

 

tal qual um louco,

o louco se distancia,

na medida em que

prefere a rudeza,
em detrimento
da fantasia.

tal qual um bobo,
o bobo se aproxima,
na medida em que
prefere a loucura,
em benefício
da cortesia.

tal qual um louco,
tal qual um bobo,
tais quais, poesia.

1 comentário
  • Responder
    31 de outubro de 2019, 17:04

    Soberbo, Poetinha! Assim, como nós, reles mortais. Do aplauso ao ostracismo numa única e solitária existência. Bravo! Bravo!

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