fizeram de um tudo, para trazerem o amigo de volta. é que ele sofria de um tudo, pelo tanto que investia e, sempre desarmado, às causas incorrigíveis. sofria de amores desnecessários, diziam dele, às costas. ele mesmo sabia disso. já havia tentado umas cem maneiras de ignorar o mundo. embebedou-se tantas vezes para abraçar a tristeza existencial tão sua e, tão inacessível.
mas não era sua, era a dor do mundo. quanto ao trato hedonista? funcionava para todos, ao que parecia, não para ele. menos tropeços para ele, mais trato, mais direção, mais zelo para cuidar dos amigos que não sofriam um sequer, dos amores inacessíveis.
com o tempo, menos amigos e menos rodas de conversa. virou o tema das mesas, dos encontros; menos acessíveis. também teve uns jeitos da escolha dele, claro. para a sorte dos amigos. um chato, diziam dele, às costas. mas sabia ele. também sabiam que ele tinha acesso, porque acessavam a ele.
é que sabiam que o mundo precisava dele, porque dificuldades apareciam todo dia, porque era do mundo e, ele era muito bom às causas irrecuperáveis. era dele, de algo no peito dele. ele sabia e não deu mais as costas ao mundo; foi assim.
[ … ]
sofria de um amor incorrigível, diziam dele nas placas, nos cartazes, nas rodas de conversa, nas homenagens póstumas que serviam para o trato da fome de mundo e para elevar uns cem nomes desimportantes. criou umas cem maneiras de ensinar o amor, reconheciam dele. finalmente conseguiu adentrar naquele quase inacessível coraçãozinho de mundo.