o amor não tira nada
acrescenta tudo
e ao mesmo tempo
e quando é só; e metade
ainda é pleno e nesta forma
amor ao meio e mais um tanto
amor inteiro se torna
e mesmo pouco se basta
quando está entre os dedos
e parece que se esvai
mas com mais uma pitada
se aperta e permanece
e assim amor não trai
e quando é sem medida
e aborrece?
exagerado e acrescido
de mais duas xícaras
mas é sempre sem trapaça
e se joga de cabeça e com gosto
mesmo quando o cardápio
é embusteiro e sem graça
do tipo: amor ao meio
pra um amor inteiro
ainda assim é amor
mesmo sendo o preço
uma desgraça
Drummond em “Procura da Poesia” usa Poema para explicar como se faz um Poema. Uma ousadia metalinguística extraordinária. Nós achamos que sabemos o que é amar, e fazer desse sentimento um poema nos traz alívio. Isso me faz lembrar alguns versos do poema referido: “Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.”
Veja bem, Drummond não queria saber dos meus sentimentos!!! E mais, disse que não servia pra ser poema!!! Que cara folgado!!! E quando ele falou de equívoco? Quem ousa colocar em versos os seus equívocos?
Quem ousa admiti-los?
Sobre ser metade, meio, inteiro, ou nada… é sublime! Ser metade é um exercício contínuo de doação, pois o amor tudo suporta, tudo crê, como diz o texto Bíblico.
E pagar o preço da desgraça???
Impossível. A desgraça não é amor. Amor é decisão. Se eu decido amar, mesmo sendo metade, não pode haver lugar para a desgraça. E se ela insistir em fazer parte, não há amor. Nunca houve.
Parabéns, Poeta, por enriquecer o blog com este tema tão profundo.
Escreva mais sobre isso.
lindooooooo, adorei!!!