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O bêbado e a “desiquilibrista” ( histórias reais )

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Fico imaginando aqui a aparência – partindo do princípio de que nunca tenha visto um – dos anjos protetores dos desprovidos de cuidados que promovam a redução de danos próprios. Os anjos dos estabanados, xucros, imprudentes, desatentos e em outras palavras: dos desastrados! Agora, imagine você, caro leitor, depois dessa atmosfera criada, a aparência de um anjo “cuidador” de um bêbado, destes que curtem um bom pileque diário como dever cívico! E a coragem do ser angelical pra aceitar tal fardo? Imagino ele exigindo lá no céu os equipamentos de proteção individual: ” Não desço da minha nuvem sem lança e armadura! E ponto final!”

A ambulância já vinha se manifestando à distância, com os seus sinais estridentes característicos apontando que tava trazendo “pepino”ao pronto atendimento. Adentra o espaço reservado pras viaturas e desce em maca um camaradinha “restrito”- leia-se amarrado na maca. Os socorristas fazem uso de tirantes e coxins e maca rígida, que é do protocolo de atendimento pra cidadãos caídos em via pública. Mas neste caso específico, pela agitação da nossa vítima, tiveram que amarrá-lo também, afim de prestar atendimento e pra minimizar os riscos da tal “agitação psicomotora”. Nem preciso dizer nada sobre o clássico hálito alcoólico do paciente né? Evolução dos socorristas: ” indivíduo masculino, aproximadamente 35 anos, vítima de acidente de moto em via pública. Glasgow 14 ( “Glasgow” é como é chamada a avaliação do nível de consciência que chega ao máximo de 15 e; perdeu um ponto pela desorientação clássica conferida aos beberrões ). Deixaram o “incauto etílico”, mas não sem antes demonstrarem o ar de satisfação ao se livrarem do “abacaxi”.
_ Tá tendo um dia difícil amigão?
_ Quero ir embora- responde ao enfermeiro.
_ Você caiu de moto e precisamos te avaliar, te medicar e só depois disso poderemos te liberar pra casa ok?
_ Não. não! Quero ir agora! E tenta se desvencilhar das amarras.
_ Calma parceiro! Vai ficar tudo bem!
_ Tem alguma dor? Tá doendo em algum lugar?
_ Eu quero ir embora! Aiiiiii!!!
_ Dói essa perna?
_ Não tá doendo nada!
_ Mas eu mexi aqui e você gritou.
_ Não dói em lugar nenhum! Aiii!
_ Tá doendo ou não?
_ Não!
Chega o médico. Faz a avaliação geral e aos poucos vai liberando o paciente dos tirantes ao que quase é surpreendido por um pontapé.
_ Fica calmo aí amigão, senão vou pedir pra te amarrar de novo!
_ Eu quero ir embora.
_ Seguinte: quem bebeu foi você! Quem caiu de moto foi você! Aprontou essa “M” e veio parar aqui então cala essa matraca aí, fica tranquilinho e colabora que a gente te libera tão logo saibamos que não tens nada fraturado aí!
E encaminhou o cara pro raios-x. Na volta, imagens normais. Admnistração de analgésico pra dor.
_ Tens alergia a algum remédio?
_ Tenho alergia à água! Dá uma cachaça que eu melhoro!
_ Cheio de graça né? Seguinte: vou te aplicar uma injeção pra passar a dor.
_ Injeção??? Injeção não, injeção! Não querooo!!!
_ Mas precisamos fazer cara! É antiinflamatório também e a gente precisa fazer.
_ Mas não tá doendo nada, aiiii!
_ Então por que tá gritando? Estica essa perna!
_ Aiiiii, estica não , estica não!
_ Tá doendo assim?
_ Não dói nada, não tá doendo!
_ Mas por que tá gritando?
_ Porque tá doendo muito!
A equipe inteira já havia desistido do cara. Várias tentativas de contato com a esposa, a pedido dele.
Horas depois ela aparece tão embriagada quanto ele. Saem embriagados, abraçados, da unidade.
Momentos depois outra viatura do Samu aparece no pronto atendimento. Evolução dos socorristas: “acidente com múltiplas vítimas, um masculino de aproximadamente 35 anos e uma feminina…”
Dessa vez, o anjo voltou ao céu para os devidos reparos.

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