carrega na mente a obrigação
do ofício; mais uma noite: plantão.
no peito dá colo ao eterno menino
e sua utopia. sons e versos que
brincam no coração. passeando…
enquanto isso rompe a madrugada,
a urgência de um outro menino:
um ferido, febril e faminto
de muitas fomes;
( hoje, comeu o que mamãe?
ora doutor, hoje ganhamos
biscoitos recheados. banquete.)
por isso glicose vertendo
na pulsão desta veia.
o menino doutor,
( todo jaleco branco denomina )
desolado, vislumbra a desnutrição
naquele corpinho deitado na maca;
tão ausente de infância.
suturas na carne, ataduras na pele
e a madrugada torna-se silenciosa.
outra vez no plantão.
o curador do corpo, não satisfeito
busca sua alma poeta:
abraça o violão e se permite chorar.
não basta! ele sabe.
o menestrel da madrugada desperta
e, se irmana à alma do menino na maca,
adormecido por instantes e
abraçando invisíveis meninos do mundo,
dedilha canções.
acalma seu coração, enquanto
imagina a infância se desenhando,
num céu de utopia…
* Maria Luiza Kuhn é escritora, palestrante, consultora literária, terapeuta, pesquisadora dos saberes femininos e consultora de tarô.
Criadora do método terapêutico Poesia Terapia Flor do Abraço.
Caro HANG,
aí está você – “abraçado ao violão / e se permitindo chorar”, eu diria se permitindo também cantar. É isso aí. Um abraço para o amigo, e também para Maria Luiza Kuhn.
Nobre amigo, sempre uma alegria recebê-lo por aqui. Agradeço a presteza e cordialidade de sempre. Abraços nossos!
Autopia pura…
Não é mesmo? Maria Luiza é um presente! Grato, caro amigo.