Sutilezas X

Pra todo poeta tem um desajuste, um desajustado, uma loucura de revés, um convés cheio d’água e um baldinho de palavras. Uma tristeza produtiva que constrói um sim plácido cheio de vontades de ser aristocrático, mas feito freio, larga do eu eufórico pela “eureka” do poema máximo. Uma lanterna com bateria baixa, um medo, um engasgo, um fantasma inventado, uma sombra imensa na parede e depois uma platéia assustada pra ouvir o causo. Pra todo poeta uma centena de portas; brancas, adornadas, frágeis do cupim e entortadas e; mais duas de estradas: bonitas, feinhas, cheias de mato ou empoeiradas, e cabem tão bem, mais três centenas imaginárias de: tramelas nas lambretas, fechaduras muito velozes e as mais loucas maçanetas. Ah, e claro: duas taças de bom tinto, umas mentirinhas sobre as uvas, uma rolha largada ao lado e uma pá de desejo ao cubo, invasivo e ruborizado.